Filmes "Snuff" e a necessidade de violênca na mídia

 

Cena do Filme "Temos Vagas" - 2007.

 "Um casal viaja pelas estradas dos EUA a noite quando são obrigados a parar num motel desses de beira de estrada e são atendidos por um senhor aparentemente inofensivo. Ao chegarem no quarto onde ficarão hospedados, descobrem uma coleção de fitas com filmes sanguinários e realistas. Até aí tudo bem, apenas mais alguns filmes de terror como quaisquer outros, isso até perceberem que o cenário das gravações era ali, onde estavam agora."




   Uma breve sinopse sobre o filme "Temos Vagas", que fez com que eu me interessasse pela lenda dos Snuff Movies, digo lenda pois até hoje há muitas controvérsias sobre esse estranho ramo do cinema que nos fazem perguntar até que ponto vai a demência humana.

   O termo Snuff  (Rapé em tradução literal para português) não tem nada haver com o tabaco, mas sim com o título homônimo de um filme dos anos 70 que fora gravado na América do Sul e nunca rendeu muito sucesso e, como na época não existia pirataria e acesso fácil a informações mais undergrounds, ele logo caiu no esquecimento (e eu inclusive nunca consegui encontrá-lo na internet). O filme se tratava de algo inovador para a época: pornografia regada à sangue e sofrimento. Nada muito brutal, mas que chocaria aos telespectadores da época. Ali começou um bombardeio de lendas e comentários acerca do comércio de filmes pornográficos ilegais, onde os atores realmente se machucavam e, em alguns casos, até eram assassinados.

   A cultura pop ditava as regras e o que era comentado aos sussurros aos poucos foi ganhando voz. Começaram a surgir vários filmes que tratavam de pornografia e violência, nenhum deles era real e os que eram faziam partes de documentários sobre brigas, rituais religiosos e nudez explícita. Foi aí que surgiu um filme em VHS intitulado "Faces of the Death" (no Brasil, Faces da Morte) que mostrava cenas de cirurgias reais que não deram certo, acidentes automobilísticos, etc. Algo como alguns sites de Gore mostram hoje em dia mas que na época foi proibido em nada mais, nada menos que 50 países. Esse filme se tornou muito popular e várias sequências e adaptações foram feitas, isso até descobrirem que o diretor Conan Le Cilaire forjou a maioria das cenas, isso mesmo, tudo não passava de um filme.

   Mesmo com a descoberta de que o "Faces of the Death" era uma farsa, o mercado de filmes de terror e suspense estava impulsionado, tanto é que nessa época grandes clássicos como "Sexta Feira 13e "A Hora do Pesadeloforam lançados, mas o público sentia falta daquela velha conversa sobre filmes com cenas reais de violência e quando o público pede, a mídia obedece. Assim, em 1980, foi lançado um filme que em alguns países a censura era para maiores de 21 anos! Esse era o "Cannibal Holocaust(Holocausto Canibal no Brasil), com direção de Ruggero Deodato (que já era conhecido no mundo do cinema por dirigir filmes sangrentos) e roteiro de Gianfranco Clerici. O longa foi gravado na Amazônia e conta a história de documentaristas que se embrenham na selva para filmar indígenas e seus costumes e nunca mais retornam com notícias sobre a filmagem, então um antropólogo reúne uma equipe e parte em sua procura. Ao chegar no local, encontram apenas as fitas do documentário e nelas as imagens perturbadoras de uma tribo antropófaga (canibal) que deu um destino no mínimo cruel aos documentaristas.


   Esse seria mais um dos filmes sanguinários de Deodato, mas ele acabou ultrapassando os limites e fez com que as autoridades policiais se perguntassem se aquilo era mesmo apenas um filme. Logo após seu lançamento na Itália, o diretor foi preso por um magistrado local e teve de revelar todos os segredos por trás dos efeitos especiais do filme. Foi constatado que houveram seis mortes reais de animais durante a gravação e todos os atores tiveram de comparecer ao tribunal para provarem que estavam vivos e sem danos físicos causados durante a gravação, vários desses mesmos atores e alguns membros da equipe abandonaram o set antes mesmo do filme ser encerrado, pois não suportavam o cenário de horror e a tortura real aos animais (realmente o filme é bem horroroso e vira seu estômago do avesso).

   Após a polícia comprovar que, apesar dos pesares, aquele não era um filme snuff, Deodato foi solto, mas teve sua licença de diretor suspensa por três anos, o que não impediu que ele lançasse outros filmes brutais posteriormente, nada como esse, é claro (mas isso não vem ao caso).

   E mais uma vez acabamos sabendo que esse lendário comércio de filmes com cenas reais de extrema violência a humanos era apenas um boato. Então falemos um pouco dos asiáticos e quem sabe assim provamos a existência dessa obscuridade cinematográfica.

    A cultura pop dos filmes de horror (horror porque é ainda mais assustador do que o terror convencional) sempre foi marcante na Ásia com filmes como Tetsuo - The Iron Man e 964 Pinocchio (se você tem estômago fraco, não veja esses filmes) mas foi na Coreia que as coisas pesaram com o surgimento de uma série de seis filmes curtos conhecidos como "Guinea Pig", que foi uma verdadeira febre aqui no Ocidente. Pessoas pagavam pequenas fortunas por cópias em VHS de péssima qualidade de som e vídeo, o que dava um aspecto ainda mais assustador. Os filmes em si (já assisti um deles) não têm um sentido pré definido ou sequer uma história bem bolada, são apenas vários minutos de sofrimento, tortura, mutilações e coisas de causar ânsias de vômito até ao mais corajoso espectador. Alguns filmes que prometeram brutalidade como "Jogos Mortaise "O Alberguesão comédias românticas se fossemos comparar. As cenas brutais dos filmes fizeram com que várias pessoas desconfiassem se aquilo era mesmo ficção. (assim como ocorrido em Cannibal Holocaust). Entre os que desconfiavam estava um ator bastante conhecido. Charlie Sheen, após assistir uma das fitas da série ficou horrorizado com tudo aquilo a ponto de levar o caso a polícia, que mais uma vez provou, para a infelicidade de muitos que tinham a esperança de terem encontrado o verdadeiro filme snuff, que tudo aquilo não passava de uma obra super realista de ficção, porém a equipe do filme teve de criar recentemente DVDs de toda a série com um making off mostrando os efeitos especiais utilizados.

  Recentemente (em 2007) um vídeo que foi apelidado de "3 guys 1 hammer", causou horror e revolta em todo o mundo. Esse vídeo mostrava dois garotos na Ucrânia torturando um homem com um martelo até a morte, e o pior de tudo é que esses mesmos garotos são responsáveis por 21 assassinatos cruéis, que foram registrados em vídeo. Os atos de crueldade eram filmados para que pudessem ser vendidos àqueles que sempre torceram para que os filmes snuff fossem reais. Os dois rapazes, Viktor Sayenko e Igor Suprunyuck foram condenados a prisão perpétua e os interessados no material até hoje não foram encontrados.
   Hoje em dia alguns filmes tentam documentar esse tipo de "comércio" ilegal, mesmo não se tendo certeza de que ele realmente existe. Entre eles podemos citar "8 milimetros" (8 milimeters - com Nicolas Cage), "Morte ao Vivo" (Tesis), "Testemunha Muda" (Mute Witness - considerado o primeiro longa a abordar o tema) e um até bem chocante que pode ser considerado um "horror pornográfico", o "A Serbian Film" (Srpski Film) que contém cenas de tortura física e psicológica, estupro, degradação humana e sadismo.
 

   Já vimos várias vezes que a crueldade e loucura humana não tem limites e não escolhe raça, religião ou orientação sexual, mas será mesmo que toda essa loucura é sem sentido? Não é estranho saber que há pessoas que torcem para que coisas doentias como essas aconteçam? Não é no mínimo assustador saber que livros de serial killers são sempre os mais vendidos, e  que alguns dos serial killers presentes nestes livros são venerados e possuem fãs por todo o mundo? Será que algumas vezes não é a própria mídia e a polícia quem cria esse perfil de criminosos super inteligentes e impossíveis de serem descobertos? Sem se dar conta, a humanidade movimenta um "comércio" bem mais perigoso do que os filmes snuff e a demanda desse comércio está cada vez maior.








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